Quando chegou a hora de Sara entrar para a escola eu me senti plenamente segura em matriculá-la em um colégio que valorizasse a educação cristã, afinal esta era uma questão que me preocupava desde o seu nascimento.
Eu não era dada a freqüentar igrejas e os anos haviam apagado as lembranças de orações que me foram tão caras na infância. Para ser sincera, a religião não fazia parte da minha vida embora ainda permeasse meus temores.
Não me parecia certo que uma criança pudesse crescer sem a inserção de valores religiosos, ainda que a um adulto fosse perfeitamente possível viver distante dos mesmos. Eu realmente acreditava que devia oportunizar a Sara o aprendizado das histórias de Cristo, pois, somente assim, ela seria capaz de fazer escolhas corretas em sua vida adulta.
Isso, para mim, estava muito claro.
Se você já ouviu falar que “os vizinhos são os nossos parentes mais próximos”, talvez entenda como Tio Chico acabou sendo envolvido (na verdade, se envolvendo) na questão da ida de Sara à escola.
Eu já havia feito uma primeira visita ao Colégio Santo Antonio dos Anjos e, numa noite, quando meu vizinho bateu à porta para nos oferecer um pedaço de queijo colonial com o qual um amigo o presenteara, estava com a documentação necessária para a matrícula espalhada sobre a mesa, o que, naturalmente, lhe chamou a atenção.
Talvez por se sentir um pouco responsável pela educação de sua pequena companheira de histórias, Tio Chico se permitiu uma indiscrição (coisa que lhe era incomum) e me questionou sobre a escolha da instituição religiosa de ensino.
Dei-lhe todas as devidas explicações com certo ar de satisfação, pois me sentia plenamente segura quanto à escolha.
Ele me pediu licença, puxou uma cadeira da pequena mesa que ficava na sala, sentou-se e me pediu que fizesse o mesmo.
Desculpou-se pela intromissão e passou a hora seguinte argumentando sobre o caso.
Segundo ele, Sara precisava crescer exposta a valores morais rígidos, porem razoáveis. Para a formação de seu caráter era imprescindível o contato com questões éticas bem definidas. Ela precisava de orientação quanto a bons costumes e aspectos saudáveis de seu desenvolvimento.
Sara precisava aprender o que era certo e o que era errado, mas não tinha necessidade de ser exposta a um conjunto de crenças antes mesmo que pudesse compreender seu significado.
Tio Chico me fez enxergar que, para ser uma boa mãe, para desempenhar o meu papel no desenvolvimento de sua personalidade, eu deveria apenas me incumbir de orientar sua conduta entre o bem e o mal (ainda que esta distinção não fosse sempre muito clara), deixando para mais tarde suas escolhas religiosas, que aflorariam melhor se livres de qualquer preconceito.
Foi assim que dispensei a vaga no conceituado colégio cristão e matriculei minha filha em uma escola sem nenhuma orientação religiosa.


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6 comentários:

    Claudia Formentin disse...

    Estou adorando esta história!!! Também adorei o novo formato! Um abraço para os artistas (a escritora e o 'desenhista').

  1. ... on 14 de abril de 2009 às 06:31  
  2. Maite Lemos disse...

    Obrigada Claudinha.
    Esperamos não decepcionar!
    bjnho

  3. ... on 14 de abril de 2009 às 06:41  
  4. Anônimo disse...

    Nossa! Muito legal! Vou acessar todos os dias para saber como vai terminar esta história...
    Sucesso e boa sorte!
    Bj
    Letícia

  5. ... on 15 de abril de 2009 às 13:38  
  6. Maite Lemos disse...

    Nossa Lê!
    Tu nem imagina como vai terminar a história.
    Tenho certeza q vais adorar.
    Vai lendo vai.

  7. ... on 16 de abril de 2009 às 13:15  
  8. MIRO LUZ disse...

    Parabéns! Desejo à vc , cada vez mais, sabedoria e paz , na construção de suas idéias e pensamentos. Nunca desista de seus sonhos. Uma boa ávore , além de bons frutos, lhe dará uma boa sombra.
    beijos.

  9. ... on 16 de abril de 2009 às 22:21  
  10. Viviane Gaidzinski disse...

    Nossa cada dia melhor.. me prendo aqui p saber onde vai dar isso tudo..rsrsr
    continue assim com esse sucesso todo e essa fantastica imaginaçao e criatividade.. beijokass.

  11. ... on 20 de abril de 2009 às 08:39