Junto com a manta eu havia comprado um sling - uma faixa de pano comprida, com 2 argolas fixas à uma das extremidades que, ajustada ao corpo, transporta uma criança de 0 a 3 anos, segundo explicação da vendedora - e foi assim, com minha filha confortavelmente presa ao meu corpo, que desempenhei as mais diversas tarefas que aguardavam por meu retorno.
Ao perceber que Sara adormecera, concluí que precisava abrir mão de minha necessidade de tê-la comigo e a acomodei em minha cama de casal, cercada por gigantes travesseiros por todos os lados, embora ela ainda não coordenasse sequer o movimento das mãos.
Aproveitei o momento para realizar aquelas tarefas domésticas impossíveis de se concluir com um bebê grudado ao peito e depois voltei correndo para o quarto pois, apesar de ela ainda dormir, eu sentia uma falta tão devastadora dela que não conseguia permanecer mais que alguns minutos sem sentir seu cheiro.
Não me aproximei muito, pois varrer a casa tinha me feito suar e a poeira levantada pela vassoura ainda estava grudada em minha pele.
Neste instante percebi que não havia naquele apartamento uma banheirinha de bebê nem nada que pudesse ser utilizado para este fim. Fiquei realmente preocupada, mas a visão de Sara adormecida me invadiu de tal forma que não consegui ordenar mais nenhum pensamento.
Fiquei ali, ao pé da cama, observando-a dormir tranquilamente por algum tempo. Existia alguma coisa tão mágica naquela visão que eu não conseguia sequer me mexer. Percebi que ela não se parecia com nada que eu já tivesse visto e passei a explorar cada centímetro daquela imagem. Cada parte do seu minúsculo corpinho parecia perfeita quando contemplada individualmente, mas a visão do todo era de alguma forma perturbadora. Não que fosse desagradável mas, por alguma razão, era extremamente inquietante.
Então ela primeiro movimentou levemente as perninhas, depois abriu os olhos e mesmo sem se voltar em minha direção suspirou tranquila com a certeza de que eu estava ali.
Lembrei do banho.
Fui até o banheiro, tirei minhas roupas, liguei o chuveiro, ajeitei uma toalha de banho no chão e voltei ao quarto para despir minha filha. Aconchegando-a em meus braços, a levei até o chuveiro onde, assim, bem próxima ao meu corpo, Sara tomou seu primeiro banho fora do hospital.
Dias depois, ao ter conhecimento da falta de uma banheirinha em nosso lar, uma querida colega de trabalho nos presenteou com um modelo ao mesmo tempo bonito, confortável e prático.
Mas nunca a utilizamos.


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